Retroceder

Para muitos, retroceder é o mesmo que perder,
Voltar atrás é o mesmo que cometer um novo erro,
Dar passos contrários no caminho significa não ter visão de futuro,
Porém voltar atrás pra mim tem tido um novo significado,
Retroceder tem sido ganhar e ganhar coisas boas,
Dar passos contrários no caminho tem sido
Pra dar chance a uma história que parece não ter mais fim.
E é assim que eu tenho andado nos últimos dias, voltando atrás,
Porém, voltei atrás pra buscar quem tinha ficado no caminho,
E os novos passos que tenho visto à frente são passos duplos,
Pois voltar atrás pra mim tem sabor de nova vida e vida junto,
Junto com quem eu não deveria ter deixado em momento algum,
Até porque dar os mesmos passos junto com uma pessoa
A quem tanto se estima é muito melhor e mais prazeroso.

Ando sem inspiração nos últimos dias, a correria, o cansaço
e a falta do que falar - talvez por já ter dito demais - me deixam
meio que calado, exageradamente. Quando fico assim, gosto de ler.
Lendo Caio Fernando Abreu, que é um dos melhores escritores
e também o mais parecido comigo, encontrei esse texto,
que é muito a minha cara e resolvi compartilhar:

“Posso não saber nada do coração das gentes,
mas tenho a impressão, de que, de tudo, o pior é quando
entra a segunda parte da letra de “Atrás da porta”, ali no quando
“dei pra maldizer o nosso lar pra sujar teu nome, te humilhar”.
Chico Buarque é ótimo pra essas coisas.
Billie Holiday é ótimo pra essas coisas.
E Drummond quando ensina que
“o amor, caro colega, esse não consola nunca de núncaras”.
Aí você saca que toda música, toda letra, todo poema,
todo filme, toda peça, todo papo, todo romance,
tudo e todos o tempo todo, antes, agora e depois, falam disso.
Que o que você sente é único e indivisível
e é exatamente igual à dor coletiva, da Rocinha a Biarritz.
O coro de anjos de Antunes Filho levanta no ar,
em triunfo, os corpos mortos de Romeu e Julieta enquanto
os Beatles pedem um Litlle help from my friends,
e a platéia ainda aplaude e pede bis
(o Gonzaguinha também é ótimo pra essas coisas).
Meus amigos, abandonados para que eu pudesse mergulhar,
voltaram a mil. Tem seus prazeres o fim do amor.
Se é patologia, invenção cristã-judaico-ocidental-capitalista,
ou maya, ego, se é babaquice, piração,
se mudou-através-dos-tempos, puro sexo,
carência, medo da morte: não interessa.
Tenho certeza que estive lá, naquele terreno.
Ele existe. (…) O que quero dizer é justamente
o que estou dizendo. Não estou com pena de mim.
Tá tudo bem. Tenho tomado banho,
cortado as unhas, escovado os dentes, bebido leite.
Meu coração continua batendo - taquicárdico, como sempre.
Dá licença, Bob Dylan: it’s all right man, I’m just bleeding.
Tá limpo. Sem ironias. Sem engano.
Amanhã, depois, acontece de novo, não fecho nada,
não fechamos nada, continuamos vivos e atrás da felicidade,
a próxima vez vai ser ainda quem sabe mais celestial que desta,
mais infernal também, pode ser, deixa pintar.
Se tiver aprendido lições (amor é pedagógico?),
até aproveito e não faço tanta besteira.
Mas acho que amor não é cursinho pré-vestibular.
Ninguém encontra seu nome no listão dos aprovados.
A gente só fica assim.
Parado olhando a medida do Bonfim no pulso esquerdo,
lado do coração e pensando, pois é, vejam só, não me valeu."

Caio Fernando Abreu

Se for

Se for chuva tem que molhar,
Se for rosa tem que cheirar,
Se for dia tem que ter sol,
Se for noite a lua tem que surgir.
Se for amizade precisa ser verdadeira,
Se for irmandade tem que ter lealdade,
Se for amor tem que bater forte o coração,
Se for pra esse amor ser meu, tem que ser por inteiro.

Um dia sinto-me amado,
No outro deixado de lado,
Um sentimento estranho toma conta de mim,
É como se um copo vazio procurasse com que se encher.
Que sentimento é esse que mesmo quase sempre perdendo
ainda tem esperanças de um dia ganhar?
Que história é essa que já dura tanto tempo
e não me deixa esquecer?
Eu só espero que um dia todos os meus sentimentos
voltem para os seus devidos lugares.
Espero de verdade, que esse dia chegue logo.